terça-feira, junho 15, 2004

Suicídio

Um poema de Florbela Espanca, dum livro que comprei em Coimbra.

"EU

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte,
Sou a crucificada... a dolorida.

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!"


Decidi publicar aqui, porque está lindo, e chama a atenção para a tristeza. Ela acabou por se suicidar, para quem não sabe. Será que o suicídio é a melhor maneira de deixar de sofrer? Será que é uma atitude cobarde, ou que requere muita coragem? Acho que pode ser interpretado das duas maneiras; é cobarde pois é fugir das coisas, é corajoso, porque efectivamente requere um sangue frio e coragem...

Ainda assim, é um assunto que perturba. Sempre tive a ideia que o suicídio é uma coisa que só a pessoa que o comete tem a ver, a vida é dela, ela é que sabe. Mas quando aqui há tempos um vizinho se suicidou e fomos a casa dele dar os sentimentos aos familiares, fiquei... Chocado é muito forte, mas fiquei algo perturbado. Não será um acto de puro egoísmo também, pelas pessoas que deixamos para trás?... Por outro lado, o suicida de certeza que sabe isso, mas provavelmente não aguenta mais e espera que o compreendam... Há sempre duas maneiras de ver as coisas...

E será que não é melhor tentar dar sempre a volta por cima, esforçar-se?... Eu digo isto, mas são meras opiniões, porque nunca devo ter sentido uma ínfima parte do desespero que essas pessoas provavelmente sentem. Por isso, se calhar até estou a ser injusto, por falar sem saber. Assim explico que é só a minha opinião, desprovida de qualquer prepotência.
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